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Mostrando postagens de 2010

Vivendo de cultura

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Eu estava no terceiro whisky quando ele chegou. “Cara, quanto tempo! E os bacurizinhos como vão?” Sempre ri intimamente de seu jeito acariocado de falar, afinal, ele o adquiriu nos poucos meses em que serviu em um quartel no Rio... Apesar de, naquele momento, estar disposto a ficar só com minhas conexões neurais, não pude me furtar a ser gentil: “Aguirre, há quanto tempo! Como vai o Fernando Pessoa de Uruguaiana?” “Que é isso, cara”, diz ele, tentando fingir modéstia, “é bondade sua...” “Senta aí e vamos tomar um ‘goró’. “Tá, mas é só um, tenho que seguir trabalhando...” “E o que tem feito da vida?” Para que fui perguntar? Seus olhos brilharam e marejaram: “Tenho tentado viver de cultura nesta cidade ingrata e inculta.” “Viver de cultura? E como é isso? Vai dizer que tá sendo sustentado por uma professora?” “Antes fosse”, responde ele, limpando o suor da careca precoce, enquanto tenho uma vontade quase incontrolável de rir de seus olhos esbugalhados atrás dos grandes óculos, “antes fos

Contos do Universo Paralelo

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Não falha nunca. Cada vez que, nos últimos anos, fui apresentado a uma pessoa e relatei-lhe minha profissão ela invariavelmente dispara uma das três perguntas básicas, todas elas versões de um mesmo questionamento: Você não tem medo? O que você fez para merecer um emprego destes? Não é um lugar horrível? Esta é sempre a introdução para o verdadeiro interrogatório que vem a seguir: É verdade que lá é o lugar onde o homem chora e a mãe não escuta? Você já bateu em alguém? Alguém já tentou te matar? É muito perigoso? O que é que vocês comem? Os presos são muito perigosos? Como funciona isso ou aquilo? É um ritual repetitivo e, com o tempo, cansativo, mas mesmo assim não posso culpá-los. Eu mesmo, por muito tempo tive essa espécie de curiosidade mórbida acerca da realidade do mundo atrás das grades, deste verdadeiro universo paralelo, com sua própria realidade, suas próprias leis, seus códigos não escritos, sua própria linguagem, seus personagens únicos e ímpares. Lembro-me que há alguns a

Me explica que eu não entendi...

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Quer dizer que o Irã, por estar trabalhando em um programa nuclear que, até se prove o contrário, tem fins pacíficos, merece sanções da ONU e o ataque da imprensa mundial, enquanto Israel, que comprovadamente atacou um navio de ajuda humanitária em águas internacionais não merece nem um 'puxão de orelhas'? Quer dizer que a ONU, que deve representar e intermediar as relações entre as nações serve, apenas, para justificar um lado, coincidentemente o lado que interessa aos norte-americanos? Por favor, se alguém entendeu me explique...

Cuidado, ler pode ser perigoso

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O texto não é meu, faz parte de uma campanha de incentivo à leitura, idealizada e produzida por: Deborah Toniolo, Marina Xavier, Julia Brasileiro, Igor Melo, Jader Félix, João Paulo Moura, Luciano Midlej, Marcos Diniz, Paulo Diniz, Filipe Bezerra. (Alunos do 2ºano - turma pp02/2003 - do curso de Publicidade e Propaganda da UNIFACS - Universidade Salvador), mas seu conteúdo é tão bom que eu assino embaixo (como se eu assinar embaixo significasse alguma coisa...) O vídeo está no youtube e também vale à pena: http://www.youtube.com/watch?v=iRDoRN8wJ_w&feature=related. Ler pode ser perigoso Pensando a respeito, eu acho que ler devia ser proibido. Nada contra quem lê, mas de certas coisas não se duvida e ler não é nada bom. A leitura nos torna incapazes de suportar a realidade. A leitura tira o homem de sua vida pacata e o transporta a lugares nada convencionais. Pra uma criança o perigo é ainda maior, por que ela pode crescer inconformada com os problemas do mundo e querer até mudá-lo

Dancem macacos, dancem

Video do youtube, imperdível. http://www.youtube.com/watch?v=MUVVYYxhV2U

Cegueira

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“É dessa massa que somos feitos, metade indiferença e metade ruindade”. A frase, do genial Saramago (foto), define o livro (estou lendo Ensaio Sobre a Cegueira). O alfarrábio é ótimo e um pouco mais fácil de folhar do que as demais obras do mestre português. Para quem ainda tem fé nos bípedes (como nos definiria Schoppenhauer), é um verdadeiro soco no estômago; para quem é realista, um espelho da humanidade. Se você assistiu ao filme de Fernando Meirelles e gostou, não pode perder a obra; caso não tenha apreciado, dê uma chance ao original, que é bem melhor que sua adaptação à 7ª arte. Em minha opinião é o segundo melhor livro do único escritor de língua portuguesa detentor do Nobel de Literatura, ficando atrás somente do Evangelho Segundo Jesus Cristo. É ler pra crer...