O esvaziamento do movimento pró-impeachment

É claro em todo o país o esvaziamento do movimento pelo impeachment de Dilma Rousseff.
São Paulo, por exemplo, continuou com o maior ato, reunindo 250 mil pessoas (dados da Folha de São Paulo), quase 1 milhão a menos do que reuniu há um mês atrás, quando os números chegaram a 1 milhão e 200 mil.
Porto Alegre seguiu a mesma média, passou de 100 mil para perto de 30 mil, segundo informações do Correio do Povo​.
Já no Rio de Janeiro, segunda maior cidade do país, o número não chegou a 13 mil pessoas (segundo o site G1), público menor do que a média dos jogos do Campeonato Brasileiro em 2014 e infinitamente menor do que o público de 100 mil pessoas divulgado pelos organizadores do evento no mês passado.
O recorde de esvaziamento, entretanto, ocorreu no Amazonas, onde o movimento passou de 50 mil (segundo o site amazonasatual.com.br), para 15 pessoas (informação do site www.netcina.com.br/); os organizadores colocaram a culpa do esvaziamento recorde na chuva que caiu em Manaus nesse domingo (15/4).
Muitas diferentes causas podem explicar o esvaziamento: o fato de que a paixão antipetista, que vinha crescendo entre o segundo turno da eleição de 2014 e a manifestação de 15 de março decaiu tremendamente, fruto do esfriamento dos ânimos, o que fez muita gente começa a alisar o quadro mais racionalmente; o imediatismo do brasileiro, que achava que o governo iria cair no dia seguinte à primeira manifestação; o fato de os manifestantes seguirem divididos entre os que querem o PT fora do governo pela via democrática (embora tal seja quase impossível sem que primeiro haja evidências da participação direta da presidente nos esquemas de corrupção) e os que querem a volta do regime militar... Mas se eu tivesse que apostar em uma causa para o claro esvaziamento, colocaria minhas fichas na PL 4330, que dispõe sobre o contrato de prestação de serviço a terceiros e as relações de trabalho dele decorrentes, a famosa terceirização, que visa enfraquecer os direitos trabalhistas.
Tremendamente impopular entre a população assalariada, a PL 4330 foi aprovada com facilidade na Câmara, onde a oposição tem maioria, sendo que o partido do governo perdeu mesmo votando unanimemente contrário. 
A vitória da oposição, entretanto, foi o que se chama de “vitória de pirro” – ou mais popularmente de “tiro no pé” –, pois a mesma oposição que até então podia criticar livremente os desmandos da presidente e acusa-la (não sem razão) de ter agido contra o assalariado, agora demonstra que não está contra o fato de a presidente ter agido contra o assalariado, mas sim de ser ela a ter o poder para tanto, ou seja, a oposição deixou claro que não está preocupada com o assalariado, mas sim em reconquistar o poder; isso sem considerar os escândalos de corrupção que têm envolvido tanto um lado quanto outro do espectro político. Para piorar, o mesmo trabalhador que estava lutando pelo impeachment da presidente agora precisa do veto dela para a manutenção de seus direitos trabalhistas.
Se novos fatos não surgirem, o destino do movimento pró impeachment é o de se esvaziar cada vez mais, como um balão furado e, enquanto isso, as reformas políticas necessárias à moralização da política brasileira seguem engavetadas por falta de vontade política (quer do governo, quer da oposição) para leva-las adiante; ou seja, assim como não havia razões para comemorar o movimento pró-impeachment, não há razões para comemorar seu esvaziamento.

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