Para aqueles que nos chamam de filhos da p***
Dia 19 me senti
ofendido com uma declaração de agressão gratuita no facebook feita por uma
amiga (pelo menos eu a considero amiga): a Amanda.
A Amanda é
minha colega de aula, evangélica, filha de evangélica, irmã de evangélico que,
segundo ela me contou ano passado, é altamente homofóbico.
Bom, em geral,
não conversamos sobre religião; ela tem a sua, eu não tenho nenhuma. Mas o print screen no começo do texto mostra
sua declaração: ela chamou a todos os ateus e, portanto, eu junto, de filhos da
puta (ou alguém tem dúvida do que letras os três asteriscos pudicamente
escondem?).
Intemperança
evangélica, talvez; talvez a pouca idade; talvez tenha se expressado mal;
talvez até tenha tentado fazer uma brincadeira, já que seu comentário termina
com rsrrsrsrsrs.
Respondi-lhe –
buscando manter o alto nível apesar da agressão gratuita – que “não basta
acreditar em um livro escrito na Idade do Bronze cheio de contradições e basear
seus julgamentos morais por ele, é preciso, ainda, tem que obrigar os outros a
acreditar também”. Ah, também coloquei “rsrsrsrsrsrsrs” no final de meu
comentário, já que, se alguém pode chamar os outros de filho da p*** e isso se
torna ‘jocoso’ se você acrescentar risinhos no final, então acrescentar
risinhos num comentário sobre a bíblia talvez o torne, igualmente, burlesco.
Qual a
resposta? Nenhuma, a não ser apagar meu comentário (e parece que outros), já
que a resposta que ela postou foi “Excluí os comentários infames (sic),
pra não deixar meus amigos passarem o ridículo de desdizer isso mais
tarde...”.
Tudo isso, é
claro, sem apagar seu próprio comentário acerca das progenitoras de quem não
crê, afinal, ao que parece, infame é o fato de nós não professarmos a mesma fé
de minha colega, nunca o fato de ela ter nos ofendido pessoalmente; e quem teria
que se ‘desdizer’ seríamos nós, que temos uma opinião diferente e a expressamos, não ela que partiu para ofensas pessoais.
Confesso que,
já que ela gosta tanto da Bíblia, cheguei a pensar em manda-la ler Timóteo 2:12:
“Pois não permito que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o homem, mas que
esteja em silêncio”, mas o sexismo da frase me enojou o suficiente para que não
o fizesse.
Hoje olhei um
filme, indicação de meu amigo Mário Nunes, chamado The Ledge (em português pode
ser encontrado com dois títulos: O Parapeito ou A Tentação); filme
estadunidense de 2011, escrito e dirigido por um tataraneto de Charles Darwin, Matthew
Chapman.
A trama do
filme envolve a relação entre um ateu e a mulher de um cristão fundamentalista
e fala sobre intolerância religiosa, orientação sexual e da visão ateísta de
mundo.
O triller, que está fazendo relativo
sucesso apesar de ser uma produção modesta do dito “cinema alternativo” cativa
por sua densidade e por seu debate filosófico; entretanto, tem sofrido duras
críticas de cristãos mais fervorosos. Bill Donohue, por exemplo, que é presidente
da Liga Católica Conservadora, disse que o filme “promove o ateísmo”, e
garantiu que seus acólitos não o assistirão, tal como ele não assistiu; ou
seja, além de promover o “não vi e não gostei”, ele ainda deixou claro o quanto
seu “rebanho” tem livre arbítrio em suas escolhas...
O que revolta
aos crentes de plantão é que o vilão da história não é o ateu, mas o cristão e
isso, para eles, é inaceitável, como se ser uma boa pessoa fosse pré-requisito
para seguir qualquer religião e em todas elas não existisse gente de péssima
índole, assim como pessoas maravilhosas; ou como se para ser ateu fosse
necessário ser uma pessoa desprezível.
O
conceituadíssimo médico oncologista e ateu militante Dráuzio Varella (conhecido
do grande público por seus quadros no Fantástico, da Rede Globo), por exemplo,
fala que não são poucas as pessoas que, quando descobrem sua irreligiosidade se
surpreendem: “Doutor”, segundo ele essas pessoas em geral lhe dizem, “mas o
senhor é um homem tão bom, tão justo, como pode ser ateu?”
Pois é mais ou
menos essa visão claro-escuro que as pessoas têm da religião e do ateísmo;
colocando todos os religiosos como “pessoas virtuosas” e todos os ateus como “seres
malignos” e, neste sentido, vejo o filme de Chapman como um importante aliado
na eliminação do preconceito religioso.
Aliás, pensando
um pouco sobre tudo isso, devo me dar por satisfeito por morar em um século e
em um país laicos, onde minha visão religiosa não me garantirá a fogueira ou a
forca (a primeira usada em outros tempos em países católicos, a segunda em
países protestantes, ambos contra “desviantes da fé”), e onde há pouca possibilidade
de que alguém me chantageie a pular de um prédio por não professar sua fé (quem
já viu “O Parapeito” entenderá). O máximo, parece, é o risco de ser chamado
gratuitamente de filho da puta...
Ótima crônica.
ResponderExcluirGrato por sua manifestação; o feedback é importante para que possa saber se, ao menos, estou sendo ouvido (ou lido, vá lá), concorde você com o que digo ou não.
ExcluirAbraço.
Muito bom. Escrevi há um tempo sobre a questão da moral e religião em meu blog. Se puder, passa lá.
ResponderExcluirhttp://www.desajustado.org/2012/04/20/reflexao-sobre-a-origem-da-moral/
Estive em seu blog; gostei muito do texto e você já está cadastrado em meus favoritos.
ExcluirExcelente postagem, passei por uma situação semelhante anteontem, e da mesma forma que aconteceu com o amigo, a pessoa que era um pastor deletou minha resposta.
ResponderExcluirGrato por sua manifestação.
ExcluirDe fato, infelizmente fatos como esse não são raridade; por isso considero importante que não nos calemos; que exijamos dos religiosos o mesmo respeito que a eles prestamos.