Plantas também evoluem?
Tá bom, eu
confesso: adoro internet.
Ela é realmente
uma fonte inesgotável de conhecimento e de diversão; mas é também uma ótima
forma de comunicação. Apenas dessa forma pude, por exemplo, falar com o Leandro
Bruck, meu amigão dos tempos do 2º Grau no Elisa Valls e que agora mora na
Grande Porto Alegre.
Hoje pela
manhã, postei uma imagem do Darwin com os dizeres: “Então você refuta a Teoria
da Evolução? Conte-me sobre todos os livros sobre o assunto que você leu, todos
os debates que participou, todos os artigos científicos publicados e sobre o “método
científico” que você anda usando!”
Tá certo, fui
um pouco provocativo, reconheço, mas às vezes não resisto.
Hoje à noite, o
Leandro me mandou a seguinte mensagem em resposta:
Completamente a favor, mas acho que ela está incompleta
ou foi oculta alguma informação, pois segundo ele, existiria uma evolução
continua e ininterrupta, com relação aos seres animais, mas porém, podemos
constatar a mesma evolução também nos seres ou mundos minerais, vegetais e
sucessivamente, caso esteja errado, e ele tenha algum estudo ref. a estes
outros mundos, desconsidere meu comentário e informe-me, um abraço.
Achei a pergunta
interessante; confesso que nunca ninguém tinha me interrogado sobre isso, mas é
uma dúvida legítima e, acredito, algumas pessoas podem ter o mesmo questionamento,
com a diferença que não tiveram oportunidade ou coragem de perguntar.
Assim, além de
responder ao Leandro via facebook, decidi também fazê-lo através deste blog
para que outros também possam ler.
Em primeiro
lugar devo dizer que evolução, enquanto adaptação através da seleção natural, é
válida tanto para animais quanto para vegetais, fungos, bactérias,
protozoários, algas, vírus... enfim, para todos os reinos que englobam os seres
vivos.
De fato, toda a
vida conhecida é constituída pelos mesmos elementos básicos, e sua estrutura de
replicação e de síntese proteica, o DNA ou o RNA, são constituídos dos mesmos
ácidos nucleicos básicos – adenina, citosina, guanina e timina – e a combinação
destas diferentes “letras da vida” é que indicam se você é um vírus (que é basicamente
RNA envolto em uma capa proteica quando não está ligado ao DNA de um
hospedeiro) ou uma célula viva, se tem flagelos ou pseudópodos, se é uni ou
pluricelular, se faz fotossíntese ou se tem que adquirir sua energia consumindo
outros seres, seja como consumidor primário, secundário ou terciário; enfim, assim
como um programa de computador, em que as instruções, em última análise não
passam de um conjunto de 1 e 0 organizados de diferentes formas, a expressão
dos quatro ácidos nucleicos nos mais diferentes fenótipos constituem toda nossa
diversidade de vida.
Como disse Carl
Sagan (1980), um carvalho e eu temos um mesmo ancestral comum, diferentes estratégias
evolutivas através das eras nos fizeram diferentes; e o mesmo vale para
qualquer ser vivo conhecido, se voltarmos o suficiente no tempo, encontraremos
um ancestral comum.
Com o carvalho,
por exemplo, tivemos um ancestral comum há 36 milhões de anos; o fermento de
pão (Saccharomyces cerevisiae) teve
um ancestral comum comigo e com você há 34 milhões de anos (DAWKINS, 2010).
Mas e como
somos tão diferentes do carvalho ou do Saccharomyces?
Algum dia já fomos um carvalho ou um fermento? Não, apenas tivemos um ancestral
em comum, que por alguma razão teve descendentes que seguiram rumos
evolutivos distintos, resultando em seres tão diferentes quanto uma árvore ou o
Tiririca.
Eu já falei um
pouco mais sobre isso no texto Homem primata.
Um bom exemplo
de como outros seres, não pertencentes ao reino animália evoluem é o HIV, vírus causador da AIDS.
Toda vez que
invade uma célula hospedeira o HIV “anexa” seu RNA em uma cópia de DNA, que
passa a reproduzi-lo cada vez que se replica. Mas a replicação é propensa a
erros, e uma população de HIV desenvolve rapidamente substancial diversidade
genética. Algumas variantes genéticas replicam-se depressa, enquanto outras
morrem. Consequentemente, a composição da população irá modificar-se no
decorrer do tempo, ou seja, a população evoluirá.
Sem um
tratamento anti-retroviral eficaz, as populações de HIV também evoluem
continuamente para escapar da resposta imune do hospedeiro, um processo que, em
última análise, contribui para o colapso do sistema imune e o início da AIDS.
Entre os indivíduos infectados, o HIV diversifica-se tão velozmente e a tal
ponto que será difícil ou impossível desenvolver uma vacina eficaz de amplo
espectro. Por isso nossa maior esperança para reduzir a epidemia mundial de
AIDS continua sendo a educação individual voltada para o incentivo da prática
de sexo seguro e do uso de agulhas não contaminadas (FREEMAN e HERRON, 2009).
Quanto aos
vegetais, acredita-se que foram os primeiros seres vivos pluricelulares a
conquistarem a terra seca (RAPINI), e o fizeram adaptando-se a partir de
espécies aquáticas, e prosseguiram adaptando-se até alcançarem sua atual diversidade.
É bom, entretanto, não esquecer que não pararam de evoluir, e não apenas em
tempos geológicos extensos. Weiner (1995), por exemplo, relata sobre cardos das
Galápagos que se especiaram (criaram uma nova espécie), a partir de condições
climáticas únicas ocorridas no começo dos anos 1980.
E quanto aos
minerais? Bem, eles efetivamente se transformam química e fisicamente, mas não
seguem padrões darwinistas de adaptação, ou seja, não evoluem no sentido que se
dá à palavra em biologia, pelo simples fato de não serem seres vivos.
Referências bibliográficas:
DAWKINS, Richard. A grande história da evolução. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FREEMAN, Scott; HERRON, Jon C. Análise evolutiva. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
RAPINI, Alessandro. Evolução Vegetal: da origem das plantas
à conquista do ambiente terrestre. Disponível em http://www.freewebs.com/rapinibot/encobio/aula2.htm.
Acesso em 04/06/2012.
SAGAN, Carl. Cosmos. São Paulo: Atibaia, 1980.
WEINER, Jonathan. O bico do tentilhão: uma história da
evolução no nosso tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
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