A Inquisição, os jabutis e os nazistas: Memes seguem padrões de Rainha Vermelha?
A descrição da cena, ocorrida em 17 de fevereiro de 1600, é
atormentadora:
“Vestido em trapos,
amarrado com força a uma estaca, o homem espera. Sua língua está atravessada
por um prego e presa a uma estrutura de mental para que grite uma última ofensa
à Santa Igreja. Sob seus pés, a pilha de lenha começa a arder. A cena terrível
contrasta com o lugar de nome poético – Praça das Flores, no centro de Roma.”
(SUPERINTERESSANTE, 01/2000, pg 43)
O homem condenado pela Suprema e Sacra Congregação da Inquisição
Universal ao tormento máximo é Giordano Bruno, padre e herege que ousou
desafiar a doutrina da igreja, afirmando não só que era a terra que girava em
torno do sol – e não ao contrário –, mas ainda ousou dizer que o sol era
somente mais uma estrela, em um universo infinito com um número infinito de
outras estrelas, cada qual com seus próprios mundos, muitos deles – afirmava o
clérigo executado – com vida.
Fevereiro de 2012. A Igreja é comandada pelo papa Bento XVI – ex cardeal
Joseph Alois Ratzinger – que foi prefeito da Congregatio pro Doctrina Fidei, a Congregação para a Doutrina da Fé
– órgão que substituiu a Suprema e Sacra Congregação da Inquisição Universal –
entre os anos de 1981 a 2005.
Apesar de ser considerado membro de uma das alas mais conservadoras da
Igreja – que dentre outras coisas condena o homossexualismo, o uso de
preservativos e pesquisas com células tronco –, Bento XVI não só não nega como
não vê contradições entre os ensinamentos católicos e a possibilidade de o
Universo ser infinito, de ter surgido há 13,9 bilhões de anos ou de que o
surgimento das espécies tenha se dado seguido os padrões propostos por Charles
Darwin (2004).
Mas então, o que mudou nestes últimos 412 anos? Mudou a fé ou as verdades
da Igreja – embora sejam apresentadas como infalíveis e imutáveis – são
relativas a tempo e espaço? O que pode explicar tamanha mudança havida entre o
julgamento de Bruno e a chegada de Ratzinger ao pontificado?
Para buscarmos compreender esta verdadeira revolução de ideias, vamos
primeiro analisar o mundo das ideias em si – sem, entretanto, qualquer
conotação platônica.
Memes
O que são, afinal, as ideias? O que são estes fragmentos de cultura que
aprendemos e passamos adiante?
Dawkins, em seu clássico O Gene Egoísta (2010, pg 325), afirma que “A
transmissão cultural é análoga à transmissão genética, no sentido de que,
apesar de ser essencialmente conservadora, pode dar origem a uma forma de
evolução”.
“Se o gene é uma unidade
de informação biológica, precisaríamos de uma unidade equivalente no campo
cultural. Dawkins propôs a palavra ‘meme’ para designar essa nova entidade. O
termo vem do grego mimeme (imitação),
reduzido a duas sílabas para que soasse parecido com ‘gene’ ”.
(SUPERINTERESSANTE, 2003, pg 69)
Mas o que seriam estas ideias que seguiriam padrões darwinistas de
transmissão? Seria quaisquer ideias que pudéssemos engendrar? Conforme
Blackmore (2000) não, não são quaisquer idéias. Experiências subjetivas, tais
como as emoções, não figurariam como memes. De fato, no artigo a psicóloga
apresenta o quadro reproduzido abaixo, com exemplos do que seriam ou não memes
(tradução do autor):
Memes e complexos de memes
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Histórias,
lendas urbanas, mitos, roupas, penteados, piercing, cozinha, tabagismo, aplausos, idioma, acentos, bordões, canções,
músicas, danças
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A crença em OVNIs,
fantasmas, Papai Noel, slogans racistas, piadas sexistas, religiões, invenções,
as teorias da
ciência, os sistemas judiciais, a democracia, história de Proust do bolo Madeleine
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Não memes
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Experiências subjetivas, complexo emocional, percepções sensoriais, comer, respirar, ter relações sexuais, comportamentos
inatos, mesmo que contagiosos: bocejar, tossir, rir
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Respostas condicionadas: o medo do som de uma broca de dentista, os mapas cognitivos:
Conhecer as formas em torno do seu bairro, associações com sons e cheiros
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Nota: Muitos comportamentos humanos são misturas complexas de congenitudes, aprendizagem e imitação, por exemplo, andar de bicicleta.
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Ainda conforme a hipótese de Dawkins (2010), os memes teriam maior ou
menor capacidade de replicar-se conforme sua adaptação à mente humana, tal qual
os genes têm maior ou menor capacidade de replicação conforme a adaptação do
fenótipo que o mesmo expressa.
O importante na analogia é a replicação comum a genes e memes, a
replicação mais perfeita possível. Neste sentido, Dawkins faz uma analogia
entre a cópia dos aminoácidos à função de um escriba que copia um texto,
embora:
“A idéia de que copiar
repetidamente retém a exatidão total é apenas teórica. Na prática, os escribas
são falíveis e não são imunes a desvirtuar sua cópia para fazê-la dizer coisas
que eles (sem dúvida sinceramente) pensam que o documento original deveria ter
dito. O mais célebre exemplo disso, meticulosamente documentado por teólogos
alemães do século XIX, é a adulteração da história do Novo Testamento para
adequá-la a profecias do Antigo Testamento” (DAWKINS, 2004)
Desta forma, a cópia tanto de éxons e introns quanto de memes está
sujeita a erros de cópias, denominados mutações, que em geral (principalmente
nos genes) é desvantajosa mas que, em alguns casos, se mostra vantajosa e
possibilita uma maior adaptação ao meio, uma vantagem evolutiva que pode ser
decisiva para sua sobrevivência frente a outros organismos da mesma espécie, o
que Darwin (2004) denominou seleção natural. Segundo a teoria de Dawkins
(2010), os memes seguiriam os mesmos padrões de adaptação para continuar a
serem replicados.
Conforme Blackmore (2000):
“A natureza humana pode
ser explicada pela teoria evolucionista, mas apenas quando consideramos a
evolução dos memes evolução bem como dos genes. É tentador considerar como
memes simplesmente "idéias", mas mais propriamente memes são uma
forma de informação. Genes, também, são informações: instruções, escrito em
DNA, para construir proteínas.”
Embora controversa, a hipótese tem ganhado muitos adeptos em ramos tão
distintos quanto a biologia, a neurociência e a tecnologia da informação.
Memeplexos
O conceito de que a Terra é o centro do Universo, que se adapta bem ao
pregado na Bíblia, um livro escrito na Idade do Bronze, uma vez que permite
‘espaço’ suficiente para situar-se o paraíso e o inferno fora da esfera de
estrelas que circularia o universo geocêntrico. E eis aí outro ponto importante
da teoria memética: o de que memes independentes podem se unir e formar
complexos de memes (denominados memeplexos) que atuam em conjunto, da mesma
forma que acontece com os genes. Os genes que determinam, por exemplo, que
devemos ter duas pernas não teriam sentido sem o gene que define a coluna
vertebral.
Da mesma forma, os memeplexos, embora formado por ideias que, em
princípio são independentes, operam em conjunto para fortalecer sua
possibilidade de transmissão.
Assim, no exemplo citado, no modelo astronômico defendido pela Inquisição
no Século XVII, a noção de que a Terra era o centro do Universo era um meme, a
de que o universo era envolvido por uma esfera de cristal bordada de estrelas
era outro, e o conceito de que o Paraíso e o Inferno estavam além desta esfera
uma terceira ideia; três memes isolados. Entretanto, ao mesmo tempo, eram
ideias que agiam em conjunto, fortalecendo e auxiliando uma à outra, como se
fossem os dedos de uma mão (uma mão de três dedos no caso).
Da mesma forma, se analisarmos os escritos de Saulo de Tarsos, também
conhecido como São Paulo, veremos que o mesmo não se refere ao nascimento de
uma virgem, da chegada triunfal de Jesus a Jerusalém, da traição de Judas e de
muitas outras passagens conhecidíssimas da Paixão de Cristo. A inexistência de
citações de passagens dos evangélicos nas Epístolas é vista, por alguns
estudiosos, como prova de que a história que envolve a vida de Cristo teria
sido criada a posteriori pelos
evangelistas, baseando-se em mitos mais antigos. O fato é que embora possa
haver até mesmo uma certa discrepância entre o Cristo apresentado por Saulo e o
Cristo dos quatro evangélicos canônicos, o ‘conjunto da obra’ forma um
memeplexo poderoso, que tem mantido a fé, o poder e mesmo tem guiado decisões
científicas e políticas nos últimos 2 mil anos.
Ocorre, porém, que por mais poder que a Igreja tenha tido para manter o
meme geocêntrico, que formava um memeplexo poderoso com o conceito de
localização física dos espaços de castigo e recompensa eternas, o surgimento de
outros memes concorrentes através dos escritos de Kepler, Copérnico, Bruno,
Galileu e outros tantos, apresentando um modelo mais próximo do que pode ser
empiricamente verificado com análises criteriosas.
Mas se memeplexo geocêntrico não é o cerne da doutrina cristã, ele ainda
assim foi importante na fixação do memeplexo cristão, pois se o Universo é
infinito, como queria o herege Bruno, onde situar o Éden ou o Sheol?
Estaria aí o fim do memeplexo conhecido como cristianismo?
Aí entra o questionamento que deu origem a este artigo.
Rainha Vermelha
"É preciso correr o máximo possível, para permanecermos no mesmo
local.", diz a Rainha Vermelha a Alice, quando esta constata – na obra de
Lewis Carroll Alice no País do Espelho – que apesar do muito que correram, não
parecem ter se movido.
Por analogia, o termo Rainha Vermelha (ou Rainha de Copas) foi dado pelo
biólogo van Valen "para um sistema evolutivo, é preciso haver um
desenvolvimento contínuo para manter a aptidão relativamente aos
sistemas com o qual estão a co-evoluir."
(HEYLIGHEN, 2000).
Embora possa também explicar as vantagens da reprodução sexuada, o componente
que nos interessa analisar aqui é o que explica a ‘corrida armamentista’ entre
espécies que competem por nichos ou que têm relações de predador-presa ou de
parasita-hospedeiro.
A hipótese surgiu para tentar explicar por que a probabilidade de extinção
de uma espécie não é reduzida com o passar do tempo, como seria de se esperar,
uma vez que a mesma estaria, teoricamente, cada vez mais adaptada ao nicho que
ocupa. A conclusão de Van Valen é que:
“já que cada melhoria em uma
espécie resulta em uma vantagem seletiva
para ela, a variação irá resultar no aumento do valor adaptativo na espécie. Entretanto,
já que em geral, diferentes espécies estão co-evoluindo, melhorias em uma espécie
representam vantagem competitiva em relação às demais. Isso significa que o aumento
do valor adaptativo em um sistema evolutivo, deve promover a diminuição do valor
adaptativo em outro. A única forma de uma espécie sujeita a competição
por recursos manter sua aptidão em relação a espécies competidoras é pelo aumento
da aptidão da espécie” (HEYLIGHEN, 2000)
Exemplos deste tipo de evolução podem ser facilmente encontrados até
mesmo em Darwin (2004), e têm muito a ver com a própria Seleção Natural, com o
adendo de que não é apenas uma espécie que está se adaptando ao nicho, mas sim
que está competindo pelo nicho com outra, seus interesses se chocam e, para
quem nenhuma das duas acabe sendo extinta, é necessário que co-evoluam.
Dawkins (2009, pg 249) nos cita um exemplo das Galápagos que pode
ilustrar o conceito:
“Os jabutis (...)
adquirem pela evolução diferentes formas de carapaça nas diferentes ilhas. As
espécies das ilhas maiores têm carapaças mais altas. As das ilhas menores têm
carapaças em forma de sela, com uma abertura dianteira dotada de uma dobra alta
para a cabeça. A razão disso parece ser que as ilhas maiores são úmidas o
suficiente para que nelas cresça grama, da qual se alimentam os jabutis que lá
habitam. As ilhas menores são em geral demasiado secas para ter grama, e nelas
os jabutis comem cactos. A carapaça com a dobra alta permite que o pescoço se
erga e alcance os cactos, os quais, em uma corrida armamentista evolucionária,
crescem cada vez mais alto para livrar-se dos jabutis devoradores.”
Ora, a hipótese memética nos diz que a evolução e a replicação dos memes
segue o mesmo algoritmo da replicação genética. Então cabe a pergunta: a
hipótese da Rainha de Copas caberia também na co-evolução de memes e memeplexos
em competição?
Em minha opinião a resposta é SIM.
Analisando o caso do geocentrismo, que condenou Bruno à pena capital em
praça pública e forçou Galileu a abjurar – embora, segundo a lenda, tenha dito
baixinho: eppur si muove – e cumprir
prisão domiciliar perpétua, vimos que estes eram os últimos estertores do apoio
do geocentrismo a uma noção de um deus pessoal que pune e mandou seu filho
unigênito para purgar os pecados humanos.
Como no caso dos cactos das Galápagos, o cristianismo precisava se
adaptar, crescer para não ser devorado pelas novas ideias. Desta forma, foi
vagarosamente permitindo que a nova teoria heliocentrista fosse considerada; a posteriori, adaptou-se às novas
concepções surgidas do conhecimento empírico científico acumulado.
Primeiro buscaram-se outros possíveis lugares onde situar céu e inferno;
hoje, muitos teóricos católicos admitem que as mensagens bíblicas são
metafóricas, não podem ser levadas ao pé da letra.
Se antes o Vaticano negava veementemente o big-bang, hoje Ratzinger
afirma que Deus foi o gatilho deste; se antes se negava que as espécies
evoluíam, hoje o pontificado diz que tal ocorreu pela vontade do Criador. Ou
seja, cada vez mais a Santa Sé busca demonstrar que religião e ciência não são
incompatíveis, pois Deus estará sempre no invisível e na força geradora do
cosmos.
Mas e o fundamentalismo religioso? Eles seguem negando as evidências
científicas da evolução e a corrente da Terra Jovem afirma que o Universo tem
pouco menos de 10 mil anos; estaria aí um ponto contrário à hipótese adaptativa
aqui apresentada?
Penso que não, mas que, ao contrário, mais uma vez temos aí a adaptação
na ‘corrida armamentista evolucionária’ dos memeplexos.
Novamente pensando nos cactos x jabutis, uma outra estratégia que poderia
ter sido selecionada nos cactos poderiam ter adotado seria uma maior
espinificação, ou tornar sua casca mais grossa, ou ainda ter desenvolvido uma
toxina, a ponto de ser impossível para os jabutis deles se alimentarem sem uma
nova co-adaptação.
O fundamentalismo religioso é o cacto seguindo uma via alternativa de
corrida armamentista: não provar que ciência e religião podem conviver, mas sim
tentando se apropriar da ciência, criando pseudociências – quando usamos como
delimitador o amplamente aceito falseamento de Popper (2008) – que tentam
provar que homens e dinossauros conviveram, que as espécies são imutáveis e que
as extinções em massa foram, na verdade, animais que não conseguiram chegar à
Arca de Noé quando do Dilúvio, que datações radioativas são equivocadas...
Mas mais importante, o meme que tem sustentado o memeplexo do
fundamentalismo cristão é o de que é errado duvidar, que a fé no que diz um
livro da idade do bronze é a maior virtude de um bom cristão, e que qualquer
dúvida racional foi plantada pelo demônio como forma de conduzir a alma à
perdição, sem dúvida um meme poderoso na mente que infecta, pois elimina
qualquer possibilidade de contágio por memes concorrentes.
Tal meme não é, entretanto, exclusividade cristã. Fundamentalismos mundo
afora o utilizam como suporte a seus memeplexos.
A mesma base do “não racionalizar é santo” pode ser vista nos islâmicos
que atiraram aviões contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova
York, ou em judeus que invadem terras palestinas pois são “terras a eles dadas
por Deus”, ou mesmo em neonazistas que se recusam a ver judeus, negros e
homossexuais (ou nordestinos, como no caso brasileiro) como integrantes da
mesma espécie a que pertencem.
Neste último caso, é interessante notar que os neonazistas brasileiros,
em sua maioria, são miscigenados de europeus, nativo-americanos e mesmo
africanos e judeus convertidos no período inquisitorial, e não ‘arianos’ como
apregoados pelos fundadores da doutrina, em um novo exemplo de memeplexo que se
co adaptou para seguir atuando fora do ambiente no qual inicialmente surgira (a
Alemanha do período inter guerras), seguindo a corrida armamentista na disputa
de nichos cerebrais com memeplexos contrários aos seus.
Mas é interessante notar que os memes e memeplexos mais modernos têm uma
capacidade infecciosa maior do que suas versões mais antigas.
Tentar, por exemplo, mobilizar grandes massas com o cristianismo
primitivo provavelmente não será bem sucedido (poucos são os dispostos a largar
tudo e viver em uma comunidade isolada do mundo como os primeiros cristãos).
Muito melhor sucedido você será se tentar o neopentecostalismo e seu meme de
que riqueza, ao contrário de ser pecado. Neste sentido, há até uma explicação
alternativa para o ensinamento de que “é mais fácil um camelo passar pelo
buraco de uma agulha do que um rico entrar no céu”, que teria sido proferidas
por Jesus, segundo Lucas 18, 24-27, de que:
“Essa corda grossa,
(chamada) camelo, vinha utilizada principalmente nos tempos de guerra, onde
através desse buraco (na muralha), chamado de agulha, podia-se fazer o
transporte de armas e comida. Essas agulhas são muito presentes ainda hoje nas
muralhas da cidade antiga de Jerusalém” (COELHO)
Ou seja, adaptando em palavras modernas, é mais fácil passar uma corda
por um buraco feito especialmente para ela do que um rico entrar no reino dos
céus.
Da mesma forma, se você apresentar a teoria ‘nem-lá-nem-cá’ apresentada
pelo Vaticano nos dias de hoje conquistará fiéis, se tentar através do método
de provar que a Terra é imóvel e fica no centro do Universo, a coisa ficará bem
mais difícil.
Tudo isso me faz recordar novamente a Rainha Vermelha e os resultados de
um experimento relatado por van Valen (1973, apud IAMARINO), sobre um crustáceo de água doce chamado Daphnia magna, ou pulga-de-água. Segundo o relato:
“Ellen Decaester
e colaboradores em um artigo da Nature, coletaram amostras de sedimento no fundo
de um lago onde se encontravam várias camadas de deposição, cada camada correspondendo
a um intervalo de tempo, totalizando 24cm de sedimento e 39 anos de registro. Nas
camadas de sedimento se encontravam ovos de Daphnia
e esporos de um parasita que a ataca, a bactéria Pasteuria ramosa. A ideia, muito elegante por sinal, foi expor a pulga-de-água
de cada ano a bactérias de todos os anos, passados, presente e futuros, para determinar
o sucesso de infecção da bactéria. Eis o resultado: bactérias do passado (da camada
anterior de sedimento), não infectam tão bem quanto bactérias do presente (da mesma
camada de sedimento), pois a geração de Daphnia
presente já foi selecionada para resistir à infecção, e as bactérias do futuro (da
camada seguinte de sedimento) também não infectam tão bem, pois já foram selecionadas
para infectar as futuras pulgas-de-água. No total, a taxa de infecção das bactérias
do presente se manteve constante, em torno de 60%, ou seja, ambos parasita e hospedeiro,
mudaram a cada camada de sedimento para permanecer no mesmo lugar.”
Seguindo a mesma linha de pensamento, se você afirmar para um jovem
brasileiro a quem queira converter em skinhead que a Alemanha deve ser a líder
das nações da Terra e que mestiços como ele são raças inferiores, terá
imensamente menos chances de obter sucesso do que se apresentar a versão nova
do memeplexo, onde a raça inferior é o nordestino (ainda que este tenha mais
‘sangue’ ariano) que vem e conquista sua vaga de trabalho, em um claro exemplo
de que estamos mais resistentes à cepa antiga do memeplexo, mas que a sua
infecciosidade permanece graças ao desenvolvimento contínuo para manter a aptidão relativamente aos
sistemas com o qual estão a co-evoluir
ou, em outras palavras, graças ao memeplexo ter corrido o máximo possível e,
assim, ter conseguido permanecer no mesmo lugar.
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Sieg Heil! Por mi amada iglesia La Santa Iglesia Católca, a la lucha contra los sarracenos y los cerdos judios
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