Apenas um rapaz latino-americano
A partir dessa postagem, passarei
a descrever algumas idas e vindas de minha vida como bolsista em Oshkosh,
Wisconsin, EUA, pelo programa Ciências sem Fronteiras, do governo brasileiro.
Espero que gostem.
Aeroporto O’Hare, Chicago,
05h24min, hora local (07h24min, hora de Brasília)
Amazônia vista do voo |
Tudo certo. Cheguei sem maiores
contratempos, afora o sono.
Cheguei em Chicago às 00:05,
horário local (duas horas a menos do que o horário de Brasília), e estou
acordado desde então.
Some-se a isso o fato de não ter
dormido desde que embarquei no Brasil e de ter passado uma noite agitada antes
do embarque (saudades prévias, agitação com a viagem, jantar gostoso na casa
dos sogros...), e temos um zumbi escrevendo um texto.
Devo estar com uma cara de
desorientado tremenda... Tanto que, no check da mochila, há pouco mais de uma
hora, me levaram para fazer exame de consumo de entorpecentes... “Ok, sr, it’s
all right”.
A Cidade do Panamá foi mais
tranquila; só esperei uma hora pela conexão e zarpei rumo aos States.
Apesar do contratempo das drogas,
a chegada foi ainda mais tranquila do que esperava, haviam nos orientado de que
haveria um formulário para preencher na chegada... Ninguém sequer tocou nesse
assunto, fiquei menos de um minuto na imigração e a única coisa que declarei
foi estar trazendo produtos de origem vegetal.
“What product, sir?”
“Ilex paraguariensis, the herb from mate.”
“What?”
“Mate, a drink from the gauchos…”
“What?”
Fiz um sinal de que estava com
uma cuia e sugando a bomba. O guarda riu e lascou:
“Ah! I stand... It’s ok”
E lascou um ‘ok’ no meu
formulário de declaração alfandegária e um carimbo no meu passaporte.
O aeroporto é simplesmente imenso,
creio que maior do que a Barra do Quaraí...
Na chegada, não conseguia
encontrar onde ficaria meu embarque dali a oito horas.
Normalmente até que consigo me
comunicar em inglês, mas zumbis, em geral, têm dificuldade tanto para
compreender quanto para falar a língua de Hemingway...
“¿Habas español?” perguntei a
todos os funcionários do aeroporto que encontrei, mas todos foram unânimes na
negativa simpática. Resolvi atracar meu inglês...
Muitas idas e vindas,
desentendidos e mal-entendidos depois, compreendi que deveria subir a escada
rolante e pegar o trem (sim, tem um trem dentro do aeroporto para levar aos
diversos pontos...).
No trem, torcendo para ter
entendido certo, escutei um palavreado que consegui reconhecer:
“Aqui só é muito frio no
inverno”, dizia o rapaz à senhora, com um sotaque carioca carregadíssimo.
“Desculpe, você é brasileiro?”
“Sim.”
“Cara, eu estou tentando encontrar
os locais de embarque, meu voo sai daqui há algumas horas.”
Perguntas de praxe: pra onde cê
vai? De onde cê é? Primeira vez nos USA?
Logo ele lascou: “Vai até a
última parada e desce lá; teu embarque provavelmente é lá”
Obedeci; não tinha outra opção,
mas tinha tempo de sobra... Não era uma da manhã (hora local) e meu voo saía às
oito.
Quando cheguei, os guichês
estavam fechados. Aguardei uma hora, lendo Inferno, a mais nova aventura de
Robert “Código DaVinci” Langdon.
Logo levantei e comecei a me
preparar para as infindáveis conversas cheias de desinformação e de enganos
graças à minha pouca compreensão do idioma local, aliada à síndrome de The
Walking Dead que me assolava.
“Excuse-me”, lasquei para uma
loira de meia idade simpática em uniforme de segurança, “where is the check
in?”
Ela me explicou rapidamente.
Lasquei:
“Excuse-me, my english is no good... Do you
speak Spanish?”
“No, I’m not… where you are from?”
“I’m from Brazil”
Primeira refeição em solo americano: decepcionante |
“Ah, mas eu falo português, morei
dez anos em São Paulo”, responde-me ela na língua de Camões.
Dizem que a sorte acompanha os
loucos... Talvez acompanhe também os zumbis...
Ela me levou ao guichê, em outro
andar do aeroporto, me informando que deveria passar no portão dois e se
despediu.
Mas, espere! O portão dois estava
fechado!
Tentei me informar novamente com
outros seguranças; nada... afinal nenhum falava zumbilês... novamente as
perguntas: “você fala espanhol? No, sorry.”
Amanhecer no aeroporto de Chicago, após 7 horas de espera |
Até que um outro passageiro,
americano, condoeu-se desse cucaracha e me ajudou com intérprete. Ufa!
Entrei para o setor de embarque
moído, sedento, faminto...
Lasquei uma mineral por três
dólares!!!!!!!
E depois fiz meu primeiro lanche
em solo americano um Mac: hambúrguer com
bacon e muffin, acompanhado de café... O bacon tinha gosto de nada, o muffin
era doce, o hambúrguer era grotescamente gorduroso e o café aguado... Que
saudades do “xis” do João Pedro...
Bom, hora de me dirigir a meu
portão; novas aventuras e desventuras me esperam em Appleton e Oshkosh... Mas
com certeza o pior já passou (ou pelo menos espero...).
Grande Guto, primeiramente parabéns, você merece, tenho certeza em teu sucesso, cara estarei aqui na terrinha tupi guarani torcendo por você, espero que sua estada na terra do Tio San seja a mais proveitosa possível e que logo esteja entre nós novamente para dividir o conhecimento dos gringos !!! Forte Abraço Nero....
ResponderExcluirQue demais, Guto!
ResponderExcluirViva com prazer cada momento dessa baita aventura!
Quem sabe vou te visitar! To planejando a tempos uma ida à gringolândia!
Abração!
Guto, seja sincero com os amigos..foi só o teste de drogas na chegada ?
ResponderExcluirNão teve revista pessoal COMPLETA ?
Não minta.
Um abraço da turma e sorte.
Carlos & Confraria do Chimarrão.