Criança de 13 milhões de anos descoberta na bacia do lago Turkana
Alesi parcialmente escavada após cuidadosa remoção de areia e
pedras soltas com escovas de dente e pincéis. © Isaiah Nengo
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Traduzido por Guto
Riella, a partir de http://www.turkanabasin.org/2017/08/13-million-year-old-infant-ape-skull-discovered-in-the-turkana-basin/
A descoberta, no Quênia, de um fóssil notavelmente completo de um crânio
de primata revela como esse ancestral comum de todos os primatas vivos
(incluindo o homem) se parecia. O achado, anunciado na revista Nature em 10 de
agosto, pertence a uma criança que viveu cerca de 13 milhões de anos atrás. A pesquisa
foi feita por uma equipe internacional liderada por Isaiah Nengo, do Turkana
Basin Institute e De Anza College, USA.
Dentre os primatas vivos, os humanos são mais proximamente relacionados
com os grandes primatas sem cauda do velho mundo, incluindo chimpanzés,
gorilas, orangotangos e gibões. Nosso ancestral comum com os chimpanzés viveu
na África há cerca de 6 a 7 milhões de anos, e muitos fósseis espetaculares
encontrados têm revelado como os humanos evoluíram desde então.
Em contraste, pouco é conhecido sobre a evolução dos ancestrais comuns
de primatas vivos e humanos antes de 10 milhões de anos atrás. Fósseis relevantes
são escassos, consistindo majoritariamente de dentes isolados e partes de ossos
da mandíbula. Tem sido, dessa forma, difícil responder a duas questões
fundamentais: o ancestral comum dos primatas vivos e humanos se originou na
África e como esse ancestral se parecia?
Agora, essas questões podem ser abordadas de forma mais completa já que o
fóssil do primata recentemente descoberto, apelidado de Alesi pelos
descobridores e conhecido por seu número de catalogação KNM-NP 59050, vem de um
período crítico no passado africano. Em 2014, ele foi descoberto pelo caçador
de fóssil queniano John Ekusi, em camadas de rocha de 13 milhões de anos na
área de Napudet, a leste do lago Turkana, no nordeste do Quênia. “A localidade
de Napudet oferece um raro vislumbre da paisagem africana de 13 milhões de anos
atrás”, diz Craig S. Feibel, da Rutgers University-New Brunswick. “Um vulcão
nas proximidades queimou a floresta onde o bebê primata vivia, preservando o
fóssil e incontáveis árvores. Isso também nos forneceu os críticos materiais
vulcânicos pelos cais pudemos datar o fóssil.”
O fóssil consiste de um crânio de
um infante, e é o mais completo crânio de um primata extinto conhecido no
registro fóssil. Muitas das mais informativas partes do crânio estão
preservadas dentro do fóssil, e para velas a equipe usou uma forma extremamente
sensível de raio X 3D, Na instalação de sincrotron em Grenoble, França. “Pudemos
revelar a cavidade cerebral, o ouvido interno e os dentes adultos ainda não
nascidos com seu registro diário de linhas de crescimento, disse Paul
Tafforeau, do European Synchrotron
Radiation Facility. “A qualidade de nossas imagens foi tão boa que pudemos
estabelecer, pelos dentes, que a criança tinha cerca de um ano e quatro meses
quando morreu.”
Os dentes adultos não nascidos do crânio da criança primata também
indicaram que o espécime pertencia a uma nova espécie, Nyanzapithecus alesi.
O nome foi tirado da palavra turkana para ancestral ‘ales’. “Até agora, todos as espécies de Nyanzapithecus somente eram conhecidas por seus dentes, e era
uma uma questão em aberto se eles eram ou não realmente primatas”, aponta John
Fleagle, da Stony Book University, “é importante notar que o crânio tem tubos
auditivos ósseos totalmente desenvolvidos, uma característica importante
ligando-o com outros primatas vivos”, adiciona Ellen Miles, da Wake Forest
University.
O crânio de Alesi tem o tamanho aproximado de um limão, e com seu
focinho particularmente pequeno, se parece com um bebê gibão. “Isso dá a
impressão inicial que é uma espécie extinga de gibão,” observa Chris Gilbert,
do Hunter College, de Nova York. “Entretanto, nossas análises mostram que esta
aparência não é encontrada exclusivamente em gibões, e evoluiu muitas vezes
entre os primatas extintos, macacos e seus parentes.”
A nova espécie certamente não era semelhante a um gibão na forma como se
comportava, o que pode ser mostrado a partir do órgão de equilíbrio dentro da
orelha interna. “Gibões são bem conhecidos por seu comportamento rápido e
acrobático nas árvores,” disse Fred Spoor, da University College London e do
Max Planck Institute of Evolutionary Anthropology, “mas o ouvido interno de
Alesi mostra que ele teria tido uma maneira muito mais cautelosa de se mover.”
“Nyanzapithecus alesi foi parte de um
grupo de primatas que existiram na África mais de 10 milhões de anos atrás”,
conclui o autor principal, Isaiah nengo, “o que a descoberta de Alesi mostra é
que este grupo estava próximo da origem dos primatas vivos e humanos, e que
esta origem foi africana.”
O trabalho foi apoiado pelo Leakey Fondation
e financiado por Gordon Getty, Foothill- De Anza Foundation, Fulbright Scholars
Program, National Geographic Society, European Synchrotron Radiation Facility e
Max Planck Society.
A publicação original, de autoria de Nengo, I., Tafforeau, P., Gilbert,
C.C., Fleagle, J.G.., Miller, E.R., Feibel, C., Fox, D., Feinberg, J., Pugh,
K.D., Berruyer, C., Mana, S., Engle, Z. e Spoor, F., se chama “New infant
cranium from the African Miocene sheds light on ape evolution”, foi publicada
na Nature em 10 de Agosto 2017 e está disponível em http://dx.doi.org/10.1038/nature23456.
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